O projeto Coliving do Instituto Estou Refugiado, premiado com o selo da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), está expandindo de maneira orgânica. Além de integrar novos moradores e formar lideranças, os colivings são espaços de promoção de muitas atividades: rodas de bordado, encontros socioeducacionais entre moradores e convidados, workshops. Recentemente, o coliving situado na Rua Sílvia foi cenário de duas importantes ações: reformas e sessões de arteterapia.
Duas sessões de bordado e pintura ocorrem semanalmente nos encontros de arteterapia. As atividades são conduzidas por Márcia Landsmann, pós-graduanda em arteterapia pelo Núcleo de Arte e Educação, com o apoio do Instituto Estou Refugiado e da professora supervisora Cristina de Barros Shigueru. Os grupos de migrantes e pessoas em situação de refúgio que participam das atividades são heterogêneos, sem restrições de gênero ou faixa etária.
As sessões de arteterapia são uma forma de expressão que combina arte com a finalidade terapêutica. Por meio de diferentes técnicas artísticas, como pintura, desenho, bordado, colagem, dança, entre outras, a arteterapia ajuda a explorar as emoções, promovendo o autoconhecimento e o bem-estar socioemocional. De acordo com a professora Márcia, a arteterapia contribui para o desenvolvimento das capacidades de expressão do indivíduo, alinhando criação artística e saúde mental.
O objetivo da arteterapia é permitir que os alunos se sintam confortáveis para promover o autoconhecimento, estimulando a cognição e a criatividade. Dessa maneira, a arteterapia traz benefícios que vão além da aparência, são transformações significativas individuais e coletivas, um tratamento terapêutico já reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A proposta apresentada por Márcia Landsmann visa cultivar o sentimento de pertencimento do grupo, resgatando suas individualidades e raízes culturais. Reconhecendo os desafios enfrentados por essas pessoas devido ao deslocamento forçado, ela enfatiza a importância da adaptação ao novo ambiente, utilizando ferramentas lúdicas para enfrentar as adversidades da vida.
O último relatório da organização sobre saúde mental de 2023 mostrou avanços no tratamento terapêutico por meio da arte. O relatório destaca que algumas intervenções artísticas não apenas produzem bons resultados, como podem ser adaptadas para pessoas de diferentes origens culturais, e seriam uma alternativa para envolver grupos minoritários.
Assim, os encontros de arteterapia têm sido uma experiência bastante enriquecedora para o grupo que se mostrou disposto a participar dos encontros semanais no local, funcionando como uma ferramenta de autoconhecimento para os acolhidos pelo projeto, como também uma forma de comunicação e autoexpressão.
Os colivings do Instituto Estou Refugiado foram idealizados pensando no acolhimento humanizado, recebendo os moradores com respeito às suas individualidades. Trabalhamos com profissionais competentes que defendem a escuta ativa e a organização institucional horizontalizada, integrando todos os grupos sociais que atuam nesse projeto.
Quando pensamos em coliving, queremos lembrar de sustentabilidade e de acomodações independentes, que integram indivíduos com respeito. Portanto, refletem os preceitos comunitários sociais de convivência, trazendo mais colaboração aos migrantes e às pessoas em situação de refúgio acolhidas pelo Instituto, com impacto direto no modo de agir do grupo.
Por iniciativa dos próprios moradores – dentre os quais estão alguns artistas afegãos em situação de refúgio -, foram feitas reformas para dar mais qualidade de vida e representatividade às pessoas que habitam a casa. Como acolhemos grupos com características heterogêneas, histórias de vidas impactantes e representações de culturas e artes milenares, a colaboração deles foi fundamental para que pudessem se sentir num lar respeitando as características do projeto.
O reparo realizado pelos artistas que moram no local modificou o espaço com cores, organização e ajustes essenciais. Esses reparos trouxeram mais representação para os moradores se sentirem de fato em suas casas. Mesmo que sejam residências temporárias, eles se sentiram integrados de maneira plena. As modificações que acontecem são parte da ideia do Instituto Estou Refugiado de dar mais autonomia aos moradores, tornar o espaço mais ativo e dinâmico para que se sintam agentes de transformação.