MULHERES AFEGÃS: FRESHTAH SHARIATEE
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Desafios e conquistas no mercado de trabalho
Há quase dois anos no Brasil, Freshtah Shariattee, que já havia vivenciado desafios inimagináveis no Afeganistão, enfrentou dificuldades ao chegar aqui com sua família, mas também encontrou oportunidades. No seu país de origem, cursou Química na Universidade de Cabul, graduando-se com louvor, antes de o Talibã tomar o poder. Ela tinha planos definidos para quando se formasse, mas esses planos foram interrompidos devido ao colapso do antigo governo e à ascensão de forças ultraconservadoras ao poder. Migrar foi a solução sensata para essa jovem.
No Brasil, Freshtah foi acolhida pelo Instituto Estou Refugiado onde frequentou cursos de português, capacitação em informática e especialização na ESPM voltada para Tecnologia da Informação (TI), com amparo da Organização Internacional para Migrações (OIM). Atualmente ela está na área de Segurança da Informação, no Hospital Albert Einstein. Freshtah é uma jovem determinada, com amplas capacidades. Fala inglês fluentemente, já possui português avançado e, além de dominar seu idioma nativo, o persa, fala pashto.
Na área de TI, ela participou do curso da Escola da Nuvem, promovido pela OIM, e, há mais de 8 meses, integra o programa Women Rock IT, do Cisco Networking Academy, uma formação profissionalizante em tecnologia com foco em Redes voltada para mulheres. Ela é muito estudiosa, gosta de aprender línguas e de praticar esportes, como o Karatê. Ela e sua família se adaptaram à cultura e à sociedade brasileira.
Nasceu na aldeia de Sewakshibar, na região de Daikundi (região central do país), cuja população é de maioria Hazara, um grupo étnico bastante discriminado. A região de Daikundi também é famosa por ter a primeira e única prefeita mulher do Afeganistão na cidade de Nill, a afegã Uzra Jafari, editora chefe da revista Farhang, além de autora de dois livros famosos “Fazendo uma nova constituição do Afeganistão” (2003) e “Eu sou uma mulher trabalhadora” (2008), que fala sobre o direito das mulheres afegãs no mercado de trabalho.
A família de Freshtah faz parte dos sobreviventes do genocídio Hazara da aldeia de Sewakshibar, quando, em 24 de novembro de 2022, oito familiares, incluindo três crianças em idade escolar, foram brutalmente mortos em sua casa. Outros quatro membros de sua família foram presos e permanecem sob custódia do Talibã. O crime foi amplamente divulgado, principalmente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ganhando repercussão internacional.
Nascida em 1997, quatro anos antes da queda do Talibã e da ocupação americana (2001-2021), Freshtah traz as marcas da resiliência. Ela e sua família encontraram no Brasil um local para continuar a sua jornada, onde puderam desenvolver as suas habilidades e autonomia.
Novas leis contra meninas e mulheres afegãs
Desde setembro, o Talibã impôs restrições draconianas às mulheres e meninas afegãs, com o objetivo de eliminá-las totalmente dos espaços públicos. As leis, que antes já eram duras, tornaram-se insuportáveis. Houve apelos internacionais para investigar essa perseguição de gênero como um crime contra a humanidade, pois há contínuas violações dos direitos fundamentais em meio a uma crise humanitária e a uma grave recessão econômica.
A liberdade de expressão já não existe, com relatos de desaparecimentos forçados, detenções ilegais, prisões arbitrárias, torturas e maus-tratos. A liberdade religiosa se reduziu ainda mais sob o regime do Talibã. Grupos étnicos, incluindo minorias religiosas, enfrentaram crescente marginalização, preconceito e despejos forçados. O Talibã impôs execuções públicas e punições corporais. A cultura de impunidade vigora, inclusive para crimes de guerra e crimes contra a humanidade.