Mulheres afegãs: Sediqa Darya
Um novo projeto de vida na cidade de São Paulo
Os jovens migrantes e em situação de refúgio enfrentam muitos desafios ao chegar no país de acolhimento. As incertezas aumentam com a escolha da carreira, os estudos, o trabalho e a adaptação ao novo país. Apesar de o Brasil manter uma política de “portas abertas” àqueles que precisam de ajuda humanitária e de refúgio, algumas mudanças foram sentidas no último semestre em relação à política migratória no país. Além disso, o sistema de acolhimento num país em desenvolvimento pode apresentar tanto contradições sistêmicas, como propostas inovadoras para a migração e o refúgio.
Sediqa Darya está há menos de um ano no Brasil. Saiu do seu país após a tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão em 2021. Estudava Ciência da Computação na cidade de Cabul, mas teve que migrar para sobreviver frente às perseguições sentidas por muitas mulheres que querem apenas melhores condições de vida, direitos e igualdade de gênero. Ela cresceu durante a intervenção americana no Afeganistão (2001-2021), período em que as mulheres foram incentivadas a participarem da vida pública e social do país.
Com apenas 19 anos, tem uma história de vida bastante desafiadora com um relato impactante sobre as condições impostas às mulheres em seu país de origem. Com desenvoltura e português avançado, ela mostra que viver num país como o Brasil, mesmo repleto de contradições sociais, oferece oportunidades. Ela nasceu na cidade de Ghazni, no sudeste do Afeganistão, considerada Patrimônio Cultural e arqueológico pela Unesco, tem vestígios budistas, hindus e islâmicos.
Em 2013, a sua cidade natal recebeu o título de capital da Cultura Islâmica pela Organização do Mundo Islâmico para a Educação, as Ciências e a Cultura (ICESCO). É um importante centro cultural do mundo islâmico oriental, famoso por seus minaretes, torres de mesquitas que chamam para orações. Por mais de oito séculos, os minaretes de Ghazni foram símbolos do maior império do Afeganistão, que sobreviveram a guerras e a invasões. Em agosto de 2018, a cidade se tornou o local da Batalha de Ghazni, com os talibãs ocupando e assumindo o controle de várias regiões. Em 12 de agosto de 2021, a cidade foi capturada totalmente pelos talibãs como parte da ofensiva daquele ano.
Mulheres afegãs
Sediqa Darya ama jogar futebol, participava do time “Meninas da Luz” em seu país antes das restrições impostas às mulheres. No Brasil, viu a possibilidade de seguir esse esporte. Isso a ajuda a se integrar à sociedade brasileira, frente às dificuldades da adaptação. Apesar de uma história de vida marcada pelo refúgio, ela tem os mesmos interesses de grande parte das jovens brasileiras de sua idade: participou do carnaval de 2024, apresentou uma peça de teatro, fez vários cursos e workshops, enquanto estuda para o vestibular.
Espera construir um futuro promissor no país em que a acolheu; ao mesmo tempo, mantem as suas raízes culturais e o contato com familiares. Como afegã, sente especialmente o drama daquelas mulheres, que têm negadas as oportunidades que Sediqa vivencia agora. Pensa em como pode ajudá-las de qualquer maneira possível, sendo a voz das mulheres afegãs para salvá-las da situação atual.
Além de buscar ferramentas de empoderamento feminino, ela colabora para que a cidade de São Paulo seja mais plural. Sediqa ainda tem curiosidade de conhecer novas culturas e de aprender outras línguas, além do português e do inglês. Sente que tem muito a descobrir sobre o país de acolhimento e, com um olhar do recém-chegado, ressalta que a cidade de São Paulo tem murais lindos. Diz que o povo brasileiro é muito gentil, com uma surpreendente diversidade racial, e com pessoas muito alegres e dinâmicas.
De acordo com o último relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), os fluxos migratórios têm passado por processos de feminização e de aumento no número de crianças e jovens desde 2015, ainda que o número seja menor do que o de homens adultos. A migração venezuelana tem sido um desses exemplos, além de outras nacionalidades que sentem retrocessos em direitos fundamentais. A dinâmica atual reforça a necessidade de um aprofundamento nas questões de gênero, idade, e de formulação de políticas públicas adequadas.
Como este ano sediamos o G20, com o propósito de estreitar o diálogo entre os países industrializados e os emergentes, escutar relatos como o de Sediqa pode colaborar para a melhoria da condição de vida de muitas mulheres. O Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres é um excelente local de diálogo para abordar a desigualdade de gênero e impulsionar o empoderamento desse grupo em suas diferentes dimensões, revelando os aspectos mais profundos sobre a crise global de migração.
“Mulheres e trabalho” – G20
Com a atual presidência brasileira no G20, o empoderamento feminino por meio do trabalho ganha ainda mais relevância, visto que é uma oportunidade de discutir pautas que afetam as mulheres em nível global. Um exemplo são as ações desenvolvidas pelo Grupo de Trabalho (GT) de “Empoderamento de Mulheres” do G20. O GT foi criado em 2023, ainda sob a presidência da Índia, com o objetivo de apoiar os países a impulsionar as variadas formas de empoderamento de mulheres com base em dois eixos: “Igualdade e Autonomia” e “Trabalho e Políticas de Cuidado”.
O Grupo de Trabalho teve sua primeira reunião técnica sob a presidência do Brasil em janeiro de 2024. O plano de trabalho proposto pelo governo brasileiro define três temas prioritários: igualdade de gênero; enfrentamento à misoginia e todas as formas de violência contra as mulheres; e justiça climática, levando em consideração que as mulheres são fortemente impactadas pelos desastres naturais. Um outro tema prioritário trazido pelo Brasil é a autonomia econômica das mulheres, questão que afeta a vida das mulheres em diferentes países.